terça-feira, 24 de março de 2009

A evolução dos cães III

A evolução dos cães, como eu havia comentado no post anterior, sofreu uma verdadeira revolução a partir do Século XIX, com o êxodo rural e o início das primeiras metrópoles em decorrência da Revolução Industrial, como informa a matéria sobre cães da Revista Super Interessante deste mês.

Os cães, nessa época, deixaram de ser o ajudante dos trabalhos rurais para ser o objeto indicador do status de seus donos urbanos. Como eu disse, perderam o emprego mas ganharam o colo dos donos, e ter um animal diferente em casa, "inventar" uma nova raça, era símbolo de status, principalmente com a criação das exposições de cães na década de 1830, na Inglaterra, cujo prêmio era dado de acordo com a raça.

Com a criação de kennel clubs em vários países, houve um acelerado desenvolvimento de novas raças. Em 1800 eram vinte raças, em 1873, já haviam quarenta raças de cães e nos tempos atuais são aproximadamente quatrocentas raças, de acordo com a Federeção Cinológica Internacional.

As doenças genéticas em cães

O grande problema desse enorme salto na evolução das raças de cães, imposta pelo ser humano, é a maneira como os criadores faziam e ainda hoje continuam fazendo os cruzamentos: com animais da mesma família. Ou seja, os chamados cruzamentos consanguíneos, onde se reproduzem pais com filhos, avós com netos, e assim por diante.

O objetivo era apenas aperfeiçoar e aumentar as características estéticas "desejáveis", como a enorme orelha e grande quantidade de pregas de pele nos basset hounds ou diminuir o tamanho do focinho dos pugs, mas isso permitiu também aperpetuação de erros genéticos no DNA dos cães durante várias gerações e com isso, a enorme quantidade de doenças genéticas que estão surgindo hoje, em quase todas as raças.

Estima-se que existam mais de quinhentas doenças genéticas em cães, dentre elas estão vários tipos de câncer, cegueira progressiva, má-formação das articulações dos quadris em cães de grande porte, hérnia de disco nos dachshunds (os "salsichinhas"), doenças autoimunes, epilepsia, entre muitas outras.

O assunto está sendo amplamente discutido atualmente em vários meios de comunicação, inclusive a BBC, que fez um documentário sobre a (péssima) influência da busca incessante pela estética em detrimento da saúde dos animais. Nesse documentário, é mostrado o caso de cães da raça cavalier King Charles spaniel que têm uma grave doença genética por ter o crânio menor do que o cérebro. A RSPCA, que é uma sociedade britânica de prevenção de crueldade contra animais, tem feito várias campanhas a respeito desse assunto.

Além disso, o modo de vida que acabamos impondo aos cães, sem a liderança firme do dono, falta de exercícios, excesso de comida, pouco espaço e muito tempo ocioso, fez com que os cães desenvolvessem vários distúrbios psicológicos, como a "Síndrome da separação", várias neuroses, fobias, comportamentos agressivos, chegando ao absurdo de 77% dos cães nos Estados Unidos tomarem algum remédio para driblar esses distúrbios.

Talvez tenhamos chegado a um ponto em nosso relacionamento com os cães onde as coisas não andem assim muito saudáveis. Mas acredito que será possível reverter esse cenário se houver um pouco de esforço da nossa parte, se lembrarmos que eles são cães e não humanos e começarmos, urgentemente, a tratá-los como tal.

Fica também o assunto para uma possível discussão: vamos deixar de lado os padrões estéticos dos cães pelo bem de sua saúde? Vamos exigir dos kennel clubs e das associações de raças que sejam mais flexíveis nos padrões? Vamos exigir que seja proibido o cruzamento consanguíneo? Muitas são as perguntas que podemos (nos) fazer a partir de agora.

O importante é começarmos já!

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